Núcleos de Cooperação Socioambiental criam estratégias de ações coletivas para transformar territórios no PR e MS
A cada encontro, os Núcleos, compostos por representantes de diversas entidades, criam propostas consolidadas, com prazos e metas estabelecidas para

A cada encontro, os Núcleos, compostos por representantes de diversas entidades, criam propostas consolidadas, com prazos e metas estabelecidas para ações conjuntas ao lado do poder público
Quando Celso dos Santos pensa na construção de políticas públicas coletivas, relembra seus 40 anos em movimentos sociais em busca de espaços democráticos. Entre a luta por direitos da população negra e pela educação de qualidade, o professor de 55 anos, morador de Paranavaí (PR), integra um dos 21 Núcleos de Cooperação Socioambiental para fortalecer o impacto coletivo na região Noroeste do Paraná.
O programa, que faz parte das estratégias do Programa Itaipu Mais que Energia, alinhado às políticas do Governo Federal para toda a área de atuação prioritária da usina, em 434 municípios do Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul, também conta com apoio do Itaipu Parquetec e vai além da apresentação de propostas. Em cada encontro, os representantes de entidades definem temas prioritários e utilizam os conhecimentos de cada integrante para elaborar a Teoria da Mudança.
No grupo do qual faz parte, que reuniu entidades da agricultura familiar, assistência social e agentes de saúde, Celso contribuiu para a criação de uma estratégia consolidada, com metas, prazos e responsabilidades definidas para ampliar a rede básica de saúde nos territórios. A missão é reduzir distâncias entre os ambulatórios e aumentar a presença de especialistas para o atendimento ágil.
“Projetos coletivos são essenciais porque envolvem diretamente aqueles que são afetados pelos problemas, como a precariedade da saúde pública. Em grupo, diagnosticamos e depois buscamos soluções. Quando ouvimos diferentes realidades, percebemos que os problemas iniciais podem ser parte de algo ainda maior”, afirma Celso.
“Os núcleos nascem da missão de unir compromisso ambiental e social. A ideia é juntar forças, com ministérios, instituições, universidades e movimentos sociais, para trabalhar juntos”, afirma o diretor geral da Itaipu Binacional Enio Verri. “O objetivo é um país mais justo, social e ambientalmente. Queremos construir uma grande massa no movimento, criando uma consciência ambiental e social”.
Mais que Energia, mudança no território
O programa Itaipu Mais que Energia é um conjunto de iniciativas para cumprimento da missão da empresa, em vigência desde 2005 e que prevê a geração de “energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai.” Uma das ações vigentes é o convênio Governança Participativa para a Sustentabilidade, operacionalizado por meio dos Núcleos de Cooperação Socioambiental.
A metodologia aplicada nos Núcleos, a Teoria da Mudança, destaca que toda ação precisa de planejamento, implementação, avaliação de iniciativas de impacto e de indicadores para se tornar efetiva na realidade social das comunidades. Ela mapeia a relação entre atividades, resultados e impacto esperado, identificando suposições e fatores críticos para a mudança. O processo inclui a definição do problema, a construção de um caminho lógico de transformação e a validação por meio de indicadores. Isso facilita a tomada de decisões estratégicas e o alinhamento entre todos os envolvidos no processo, garantindo coerência entre ações e objetivos. Em cada Núcleo, foram definidas duas ou três teorias da mudança.
Para Silvia Andréa, diretora de uma cooperativa de catadores em Colorado (PR), a metodologia amplia as conexões e serve como guia para o grupo que coordena, composto por 25 famílias que retiram seu sustento da educação ambiental e da coleta seletiva.
“É um horizonte que se abre para nossa cooperativa. Temos uma comunidade unida e participativa, que depende dessas ações e pode desenvolver seus próprios projetos”, conta Silvia.
“Os Núcleos são fundamentais para integrar as entidades locais e fomentar ações diretas de intervenção nas comunidades. Precisamos unir esforços e experiências para enfrentar desafios como as mudanças climáticas e a desigualdade social, promovendo uma verdadeira transformação em nossos territórios”, destaca o diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni.
Temas transversais
Os Núcleos foram formados em 2024 e, desde então, abordaram temas como geração de emprego e renda, gestão de resíduos, educação, saneamento básico, saúde pública, desmatamento e qualidade da água, entre outros.
Uma das características centrais do programa é a transversalidade dos temas. Ao discutir saúde pública, por exemplo, também se abordam qualidade da água, mudanças climáticas e saneamento. Esses temas, por sua vez, estão ligados à educação ambiental e à desigualdade social. Assim, a precarização do trabalho também emerge como um ponto de discussão, conectando diferentes histórias e perspectivas.
“Uma sociedade sustentável se constrói quando a opinião de grande parte dos cidadãos é ouvida. Quando formalizamos as ações, temos argumentos para discutir e sabemos quais caminhos percorrer”, destaca Lidiani Izidoro, educadora ambiental do município de Londrina, que participa do Núcleo do Norte do Paraná.
Elaborações conjuntas
A iniciativa já resultou em planos de ação concretos. No Núcleo de Curitiba e Região Metropolitana, uma das estratégias definidas para melhorar a qualidade da água foi a realização de diagnósticos ambientais. Com dados transparentes, o poder público pode tomar decisões mais embasadas, sendo envolvido como um ator essencial na elaboração das soluções.
No Núcleo dos Campos Gerais, a geração de emprego e renda foi um dos focos. Durante os encontros, destacou-se a necessidade de capacitação profissional dentro das escolas como um elemento essencial.
Ao preparar jovens para o mercado de trabalho, também se combate a evasão escolar, integrando políticas de inserção profissional. Com apoio governamental, também seria possível discutir desoneração e novas oportunidades de financiamento para pequenos produtores e empreendedores, incentivando o crescimento econômico local.
“Nossa maior preocupação é com a juventude, pois muitos jovens acabam deixando a região em busca de trabalho e oportunidades. Queremos mostrar que é possível viver da agricultura, e viver bem, desde que adotemos práticas sustentáveis”, disse Antônio Ostrufk, agroecologista que integra o Núcleo dos Campos Gerais.
A gestão dos resíduos sólidos foi um dos temas centrais no Núcleo do Norte Pioneiro. A política de reciclagem foi mencionada como fator essencial, com educação ambiental nas escolas, propostas de regularização de aterros sanitários e capacitações para associações de catadores.
No Núcleo do Centro-Sul do Paraná, a discussão se concentrou na necessidade de transformar a matriz econômica dos territórios. A autonomia e o crescimento geracional dos pequenos produtores foram apontados como fundamentais.
A ampliação das possibilidades de escoamento, a valorização da produção local e o suporte técnico para gestão das propriedades são algumas das estratégias sugeridas. A redução da monocultura e a criação de circuitos de comercialização são passos iniciais para promover mudanças significativas na região.
Formações para os participantes
Desde o início do programa, em setembro de 2024, mais de dez mil pessoas foram impactadas em encontros realizados de forma presencial e on-line pelo território. Cada encontro significa um avanço na metodologia. Para 2025, o cardápio formativo está repleto de atividades até o fim do ano, com novos encontros, oficinas de mudanças climáticas e resíduos sólidos.
“Com a consolidação de cada Núcleo, o nosso papel é facilitar os encontros e promover formações completas para que os participantes tenham certeza de como podem agir para promover mudanças. Os conteúdos ajudarão a desenvolver o senso crítico dos participantes e das comunidades envolvidas”, completa o diretor-superintendente do Itaipu Parquetec, Irineu Colombo.