Ele foi o primeiro novo Neymar: Chera mira carreira como técnico inspirada em Diniz e Guardiola
Meia-atacante de 29 anos, apontado como promessa e substituto do craque no Santos, lamenta falta de oportunidades como jogador: “Os

Meia-atacante de 29 anos, apontado como promessa e substituto do craque no Santos, lamenta falta de oportunidades como jogador: “Os clubes não entendem tudo o que passei”
Jean Chera evita cravar que é um ex-jogador, mas já começou a se preparar para a vida depois da carreira como atleta. Atualmente com 29 anos, o meia-atacante concluiu a licença B de treinador da CBF e faz planos para seguir no futebol.
Quatro anos mais jovem que Neymar, Chera foi o primeiro nome apontado como possível sucessor do craque. No entanto, saiu do Santos por divergência financeira antes da assinatura do primeiro contrato profissional, em 2011.
Depois de passagens frustradas por Genoa, da Itália, Flamengo, Athletico-PR e Cruzeiro, retornou ao Santos em 2015 ainda com a expectativa de poder deslanchar na carreira, algo que nunca aconteceu.
Foram poucos meses no clube até ser emprestado para a Portuguesa Santista e ter uma breve passagem pelo Sinop, depois de rescindir o contrato com o Peixe.
Pouco tempo depois, em meados de 2016, Chera anunciou a aposentadoria aos 21 anos. Segundo ele, motivada pela desilusão com o futebol e pela proximidade do nascimento da sua primeira filha.
Em 2023, Chera tentou retomar a carreira depois de seis anos sem sequer treinar e ficar afastado dos gramados. No São Bernardo, passou poucos meses e atuou só 25 minutos antes de uma tragédia familiar o tirar do futebol.
A morte precoce do pai o afastou novamente da profissão.
– Não vou dizer que aposentei 100%, porque se aparecer alguma coisa que acho viável, dentro do que acho que valeria a pena, eu continuaria. Mas tenho a noção de que é muito difícil, porque hoje, querendo ou não, no Brasil é complicado. A maioria dos clubes, as pessoas não entendem tudo que você passou, que você ficou seis anos sem jogar. As pessoas querem você pronto já em dois, três meses, e não é assim. Infelizmente, não é assim.
– E eu preciso de tempo. Seis meses, um ano para entrar no ritmo, para poder voltar a, talvez, algo do que eu era antes justamente pelo fato de que são seis anos que eu só fiquei parado. Agora, se fossem dois, três, seis meses parado, em um, dois meses você volta. Mas não, são seis anos. Então é difícil, mas se aparecesse algo que as pessoas entendessem isso e me dessem esse tempo, talvez eu voltaria – disse Jean Chera.
Enquanto não define a aposentadoria, Jean Chera tem se especializado e buscado alternativas para seguir no futebol. Recentemente, ele concluiu a licença B de treinador em curso realizado pela CBF. Com a formação, pode treinar times de base até a categoria sub-17. A intenção é tirar a licença A e entrar no mercado como treinador ou auxiliar de uma equipe profissional.
– Em um primeiro momento penso muito em trabalhar com profissional. Se surgisse algo para a categoria de base, não iria recusar, mas a minha primeira ideia é trabalhar com profissional. Começar de auxiliar técnico de alguém que já esteja trabalhando no profissional para ir aprendendo, pegando experiência, conhecendo o dia a dia de uma comissão técnica, porque pelo pouco que fiz na CBF, pelo curso, vi que é totalmente diferente do que imaginava.
– É muito difícil, é muito mais complicado do que você ser apenas o jogador, treinar e ir embora. Então preciso sentir isso melhor ali de dentro, na prática, e nada melhor do que começar com alguém que já trabalha, que tem experiência para trabalhar para ir aprendendo.
Jean Chera acredita ter um diferencial para ser treinador: as experiências de uma promessa que não conseguiu vingar e rodou pelo mundo da bola. O trabalho mental é o grande ponto de apoio da metodologia que ele considera ideal para colocar em prática na nova profissão.
– Acredito muito que consigo contribuir de várias maneiras, não só por ter jogado futebol, lógico que ajuda muito, a parte de campo ali, de instruções e tal, mas acho que na parte psicológica também, por tudo que passei, por tudo que aconteceu comigo. Essa parte que muita gente não liga, para a parte do jogador, chamar pra conversar, escutar, ver o que está acontecendo, coisa que acredito que pelo que a gente escuta o Diniz faz muito bem, ele abraça realmente o jogador, não é só o cara ali vai jogar e treinar e pronto, ele dá todo esse suporte e querendo ou não isso faz muita diferença.
– Tenho praticamente 100% de certeza que ajudaria muito. Tudo que já passei seria um grande diferencial, principalmente para os jogadores mais novos. Menino de 16, 17, 18, que está subindo no profissional agora, provavelmente muita coisa que esse menino está vivendo agora já vivi lá atrás. Coisas que ele está passando já passei, às vezes até algo que ele está fazendo de errado já fiz e na época não tinha essa noção de que estava fazendo errado, que talvez tivesse feito de uma outra forma, teria sido melhor. Então poderia agregar muito nisso e obviamente seria um diferencial.
O peso de ter sido uma promessa que carregou a responsabilidade e a expectativa de ser o sucessor de Neymar após a saída do craque do Santos é algo que Jean Chera não quer como treinador. Por isso, entende que é necessário ter pés no chão.
O meia-atacante se espelha nos trabalhos de Fernando Diniz e Pep Guardiola para moldar a sua filosofia de trabalho como “professor”.
– Acredito muito que meu time vai jogar bola, vai ser ofensivo, jogar para frente e não vai ficar se defendendo. Obviamente depende muito do clube que você está, no seu elenco, mas pensando em algo lá na frente, num time bom, que você vai você vai poder atacar em qualquer jogo, o meu estilo vai ser esse. Trazendo para hoje, nos cenários que a gente tem, gosto muito de acompanhar o Guardiola e o Diniz.
– Vou fazer 30 anos já, eu que tomo as minhas decisões, acredito que consigo controlar bem isso de estar ali com o pezinho no chão, controlar as expectativas até dos outros, sem falar muito, trabalhar mais, estudar mais. Na época que eu jogava, por exemplo, com oito anos que cheguei no Santos até os 16, não tomava decisão de nada, não conseguia controlar nada, então era tudo o que me pediam para fazer. Hoje não, hoje como eu tomo as minhas decisões, já consigo controlar um pouquinho melhor esse tipo de situação – disse.(GE).