Neymar volta ao Brasil menor do que poderia ter sido

Ele foi longe e fez muito: mas, de tão talentoso, poderia ter ido além, poderia ter feito mais. A volta

29 de janeiro de 2025 Folha de Capanema

Ele foi longe e fez muito: mas, de tão talentoso, poderia ter ido além, poderia ter feito mais.

A volta de Neymar ao Santos é a maior contratação do futebol brasileiro desde Ronaldinho Gaúcho no Flamengo em 2011. Houve Seedorf no Botafogo em 2012, houve Daniel Alves no São Paulo em 2019, houve Luís Suárez no Grêmio em 2022, mas Neymar, por sua onipresença no imaginário do torcedor, está em outro degrau, habita outro patamar.

Estamos falando de um jogador que, na última década e meia, concentrou amores e ódios como nenhum outro no Brasil. Ele foi o craque, o gênio, o irreverente, o carismático – na mesma medida em que foi o firulento, o simulador, o imaturo, o arrogante. Ninguém que goste de futebol neste país ficou imune a Neymar – fomos todos contagiados por ele.

E por um motivo muito simples: porque ele jogou futebol em níveis estarrecedores. Neymar, por alguns anos, foi um jogador de um talento excepcional – um desses cometas que não passam todos os dias. Quando ele deixou o Santos, em 2013, era evidente que enviávamos para a Europa um futuro melhor jogador do mundo, um craque que seria aprimorado em laboratório para nos guiar na conquista de uma Copa.

Só que não aconteceu. Não aconteceu porque Messi e Cristiano Ronaldo não deixaram, porque faltou cabeça, porque foi um erro trocar o Barcelona pelo PSG, porque o dinheiro falou mais alto, porque houve muitas lesões e muitas polêmicas, porque a trajetória nas Copas foi acidentada. E a consequência é que Neymar volta ao Brasil menor do que poderia ter sido.

Concluir isso não significa menosprezar tudo que Neymar fez, especialmente no Barcelona. Significa, isso sim, sublinhar o tamanho do talento do jogador. Neymar foi longe e fez muito: 26 títulos (incluindo uma Champions League), 224 gols. Mas, de tão privilegiado, poderia ter ido além, poderia ter feito mais.

Neymar tinha futebol para ser do tamanho de Ronaldinho – talvez, com algum otimismo, do tamanho de Ronaldo. É por isso que escrever esse texto com verbos no passado, como se ele não jogasse mais, carrega certa melancolia. É uma pena que aos 32 anos Neymar precise reiniciar a carreira – foram apenas 13 jogos nas duas últimas temporadas, praticamente desperdiçadas por culpa de uma lesão nos ligamentos do joelho esquerdo.

O torcedor do Santos está eufórico – e coberto de razão. Se Neymar conseguir se livrar das lesões e recuperar a forma física, será o melhor jogador em atividade no país. E poderá retornar à Seleção para, provavelmente, sua última Copa do Mundo. É um cenário plausível, embora também incerto.

Por enquanto, deixar a Arábia Saudita e voltar para casa parece uma decisão boa por vários ângulos – para o Santos, para Neymar e eventualmente para a Seleção. E para todos nós, aqueles que o admiram e aqueles que o criticam, visto que poderemos reencontrar, em estádios Brasil afora, um dos melhores jogadores que o país produziu nas últimas décadas.(GE).